Em algumas obras que integram o acervo da Biblioteca Brasiliana, mas que ainda não são de domínio público, há imagens muito representativas da “civilização do café”, como denominou Alves Motta Sobrinho, nas quais figuram ricos cafeicultores, como o alferes João da Costa Gomes Leitão ou o Coronel José Vicente de Azevedo, ou ainda, famílias dos barões do café, como a família do Barão de Castro Lima. Eventualmente aparecem também retratos de ex-escravos, como o de Romana Maria Antonia de Jesus, que nasceu na fazenda da Cascata, em Queluz, no Vale do Paraíba. Situações sociais extremas e opostas, registradas pelo olhar do fotógrafo.


São abundantes também nessas obras as imagens de casas de chácara, de fazenda, ou dos sobrados urbanos com suas extensas fachadas caracterizadas por um número expressivo de janelas – indicativo da riqueza do proprietário, como o Sobrado dos Moreira Lima, em Lorena, que hospedou príncipes e imperadores à época do Império, como observa Alves Motta Sobrinho. Construções estas que foram erguidas em função do café e que transformaram e marcaram a paisagem de cidades e vilas ligadas a essa produção.


Em All about coffee, de William Ukers, cuja primeira edição data de 1922, há várias fotografias que revelam a extensão das plantações de café em fazendas situadas no Estado de São Paulo – paisagens completamente transformadas com pouco ou sem qualquer resquício da antiga floresta. São vastas áreas de plantio, com os arbustos alinhados em perspectiva até a linha do horizonte. O autor apresenta também um mapa do “coração da terra do café”, com destaque para os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, evidenciando as manchas de transformação da paisagem e as linhas férreas que cortaram o território, interligando essas zonas de substituição da Mata Atlântica pelo café. Em outro mapa, mais abrangente, intitulado “Mapa do café na América do Sul”, a mancha abarca praticamente todo o Estado de São Paulo e parte dos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, incluindo outras localidades do Nordeste brasileiro. Finalmente, em um último mapa, “Mapa do café no mundo”, o Brasil aparece em destaque, identificado como o maior produtor mundial de café.


Além destas imagens, contidas em obras que ainda não estão em domínio público, e das imagens apresentadas no Roteiro do Café, que constam no texto de F. Ferreira Ramos, foram localizadas no acervo digital da Biblioteca Brasiliana, especialmente nos livros que abordam o tema “café”, gravuras que mostram os escravos trabalhando na produção do café (na colheita, no transporte, na secagem, no despolpamento, na seleção, na ensacamento e na armazenagem) e imagens que apresentam os trabalhadores assalariados carregando as sacas de café no porto de Santos, imigrantes trabalhando no cultivo e na colheita e também no transporte do café em Santos. São retratos da paisagem social do Brasil em dois momentos distintos: antes de 1888 e depois de 1888, quando foi abolida a escravidão.


Há também fotografias que mostram vistas gerais de fazendas de café no Estado de São Paulo, outras que registram a “habitação patronal” e as casas dos colonos nessas fazendas, as plantações extensas por vezes cercadas ainda por alguma área florestada, entre tantas outras que retratam o processo de transformação de nossas paisagens como resultado do plantio do café.


Essas gravuras e fotografias, como observado anteriormente, estão inseridas em livros e textos que integram o acervo da Biblioteca Brasiliana e tratam do tema “café”, mas são em si mesmas uma fonte documental importantíssima, seja como registro desse processo, seja como representação de paisagens brasileiras que não existem mais, mas que fizeram parte de determinado período e contexto histórico e, portanto, fazem parte da História da Paisagem Brasileira – o que acentua ainda mais seu caráter documental.